Por que o machismo é cruel para os homens também?


Quando pensamos no machismo, este é um conceito amplo que vai muito além dos estereótipos de gênero. O machismo é um fenômeno social adoecedor tanto para os homens quanto para as mulheres. Vamos falar um pouco sobre os aspectos psicológicos para os homens.

Desde que nos entendemos como sociedade, se consolidou um padrão de perfomance masculina e feminina, onde existem hierarquias de controle dos corpos femininos. A sociedade se organizava em tarefas masculinas (aquelas mais “agressivas, competitivas, violentas e perigosas) e femininas (tarefas domésticas e de cuidados). Esse padrão se mantém até hoje mesmo que em alguns níveis possamos enxergar de fato algumas mudanças. Os homens ainda acham que são mais fortes e devem ganhar mais e contam com os cuidados das mulheres muitas vezes para subir em suas carreiras; uma vez que elas abdicam de suas profissões primeiro.

Ao identificar os padrões sociais estabelecidos em nossa sociedade, podemos destacar também a “rivalidade feminina” servindo a manutenção do machismo. Sempre muito cruel, essa competitividade, coloca as mulheres em pé de guerra, entrelaçando suas preocupações com o medo de envelhecer, de ser trocada, de perder seu valor. Esse mecanismo sempre foi benéfico ao machismo, mantendo as mulheres ocupadas com futilidades, gastando seus salários inferiores aos dos homens com procedimentos estéticos caríssimos e invasivos que muitas vezes lhes custam a vida. Ao distanciar as mulheres do poder da amizade verdadeira, há um enfraquecimento da criatividade e da força feminina.


Desde muito cedo aprendemos a nos preocupar com a nossa aparência, mas também em contrapartida, aprendemos a fofocar, desabafar, fazer trocas de experiências e ampliar nossos conhecimentos a respeito das nossas próprias emoções e sentimentos. Não hesitamos em buscar ajuda quando necessário. Aprendemos ao longo do tempo, um repertório robusto de comunicação sentimental que nos permite comunicar assertivamente ao outro nossas alegrias e insatisfações.


Os homens se reunem para debochar uns dos outros, não se abrem intimamente, não perguntam como o amigo está se sentindo sobre determinadas situações, falam do uso que fazem das mulheres e comparam seus corpos.


Ao enxergar as mulheres como fracas e loucas, adjetivos que atribuem para lhes diminuir, também direcionam seu amor e afeto aos próprios homens de seu ciclo, idolatrando uns aos outros, sem contestar comportamentos abusivos. As mulheres passam a ser objeto de uso, prazer e benefícios. Quando não veem mais utilidade, trocam de companheira como quem troca de roupa.


Quanto ao aspecto emocional, este sempre foi negado aos homens. À eles sempre foi negado a sensibilidade, o contato com as emoções e sentimentos, tudo o que era considerado “vulnerabilidade”. Para a sociedade homens e sensibilidade são sinônimo de fraqueza e ser “mulherzinha” o que os permite contestar sua sexualidade. Como se uma coisa tivesse a ver com a outra. O que de fato não tem, mas na cabeça da maioria sim. Brené Brown fala muito sobre vulnerabilidade e vergonha em seu livro “a coragem de ser imperfeito.”


Ser conectado a si mesmo, aos seus sentimentos e emoções, ser emocional é para muitos sinônimo de “fraqueza”. Então aprendem desde muito cedo a evitar o contato com essa natureza humana, se distanciando emocionante de si mesmo e como consequência dos outros ao seu redor. Passam uma vida inteira mascarando suas emoções através do abuso do álcool e drogas, do sexo/pornografia, da violência e dos comportamentos de risco. Brigam por qualquer coisa, matam e morrem sem pensar. Desenvolvem transtornos mentais e problemas de saúde crônicos e ainda assim evitam o tratamento com base na ciência e principalmente psicoterapia. Esse distanciamento custa caro não só a eles, mas as mulheres que passam a ser o suporte emocional delas mesmas e dos homens, um peso difícil de se carregar.


Mas veja bem, quando muitas escritoras famosas como Brené, Bell hooks, Waleska Zanelo entre outras, e eu aqui neste texto apontamos as bases e os prejuízos do machismo, não estamos fazendo isso por ódio aos homens, muito pelo contrário, por amor. Na esperança de que eles e a nova geração possam ter um olhar mais atento e uma inclinação ao cuidado de sua saúde mental. Isso com certeza irá afetar positivamente a forma como homens e mulheres se relacionam. 


Se você está farto de ver vídeos e textos de mulheres se queixando dos homens, está na hora de se perguntar: o que tenho feito enquanto homem pra contribuir com a minha evolução e não sobrecarga emocional e física das mulheres? O quanto sou culpado e apresento os comportamentos que as mulheres tanto se queixam? Leio mulheres? Escuto as mulheres? Respeito de verdade as mulheres? Sou fiel quando assumo um compromisso? Traio a confiança de todas as mulheres com as quais me envolvo afetivamente? Cumpro minha palavra? Protejo as mulheres e seus interesses? Vejo todas as mulheres como seres dignos de amor, afeto e respeito ou somente aquelas do meu convívio (mãe, filha…)?

Não ser machista não é apenas não dizer coisas grotescas, ou não pagar fiança de estuprador, é se conectar com você mesmo, não aniquilar emoções e sentimentos, se estudar, e assumir uma postura amigável e apoiadora das causas feministas, sem se valer dos seus privilégios.


Tanto se fala do temido “esquerdo macho”, o homem que entendeu o ponto fraco das mulheres, se faz de apoiador das pautas, sensível até pisarem em seu calo e que se vale da liberdade em que transita nesses grupos para aprimorar seu poder de persuasão, mas que na realidade não apoia e nem quer que as coisas mudem, se beneficia dos cuidados e trocas feminina, mas sabe o quanto a sociedade é inclinada a proteger homens de seus erros.

Outro perfil muito conhecido são os famosos red pill, os homens saudosistas que cismam em desejar mulheres com características que o patriarcado moldou em benefício deles próprios. Criticam as mulheres por buscar igualdade e disseminam ódio em podcasts insalubres.


Todos nós mulheres e homens somos machistas em algum grau. Cabe a nós olhar pra isso e nos comprometermos a transformar essa realidade.


Sugestão de leitura: tudo sobre o amor, de Bell hooks. E não, este não é um livro romântico sobre amor, é um livro político!


Thays Sousa da Silva,

Psicóloga | Neuropsicóloga 

CRP 06/136006

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