Reflexões sobre o livro: Tudo sobre o amor, de bell hooks
bell hooks pseudônimo de Gloria Jean Watkins, autora, professora, teórica feminista, artista e ativista antirracista estadunidense, publicou mais de trinta livros e numerosos artigos acadêmicos. Estou apaixonada pelo trabalho dela e me dedicando a leitura de um deles: “Tudo sobre o amor: novas perspectivas, publicado nos Estados Unidos no ano 2000”. Livro este que tenho mencionado em frases e reflexões aqui pra vocês. Espero que gostem tanto quanto eu e que produza em vocês lindos frutos, como tenho sentido em mim...
É sabido que bell hooks evidencia em toda a sua obra que o pessoal é político, e este também será o caminho trilhado por ela neste livro, pontuando o quanto nossas ações pessoais relacionadas ao amor implicam uma postura perante o mundo e uma forma de inserção na sociedade. Ou seja: o amor não tem nada a ver com fraqueza ou irracionalidade, como se costuma pensar. Ao contrário, significa potência: anuncia a possibilidade de rompermos o ciclo de perpetuação de dores e violências para caminharmos rumo a uma “sociedade amorosa”.
Vivemos em uma sociedade que sonha, espera e exige que o amor nasça nas pessoas. Pressupõem que todos nascemos sabendo amar. Mas uma reflexão importante trazida pela leitura do livro, é que o ideal de amor vai muito além do amor romântico falsamente idealizado nos filmes e no imaginário comum.
E para se ter amor em sociedade, para se construir uma sociedade amorosa, é preciso políticas públicas que viabilizem isso. Vou explicar mais. Mas precisamos ter em mente que o amor é político.
Uma pessoa que vive em condições desumanas, que tem sua humanidade massacrada, seus direitos básicos ignorados, sua cidadania apagada, sabe amar? Como essa pessoa vai ter respeito e empatia se ninguém tem por ela? Como essa pessoa não vai apertar o gatilho e puxar o que deseja de ti na raiva e no ódio, se raiva e ódio é tudo o que sempre direcionaram a ela? É tudo o que ela aprendeu.
Estão vendo como o amor é muito mais profundo e pode ser a causa (o desamor) e a solução de muitos problemas?
É preciso desenvolver o amor coletivo, o respeito às diferenças, e garantir os direitos básicos de uma existência plena. Só assim seremos capazes de produzir uma sociedade melhor. Não basta ter dinheiro e se blindar, blindar seu carro, cercar sua casa… a violência é um problema de todos. E ela só existe porquê grupos de pessoas foram esquecidos proposital e brutalmente.
À eles foi negado o amor, o respeito, a dignidade e a cidadania. Como esperam que saibam amar?
Pra entendermos realmente o que é o amor, pra mergulhar profundamente em seu significado é preciso desaprender, deixar de lado tudo o que achamos ou pensamos que é o amor. E nos colocarmos em posição de aprender novamente.
“O amor é o que o amor faz.” O amor é o ato, a ação de amar.
Mas o amor não é instintivo. Não nascemos sabendo amar, nós aprendemos.
Muitas mães e pais não amam seus filhos. O amor não nasce com a gravidez como a nossa sociedade insiste em pregar. O amor nasce na escolha de amar, mas acima de tudo pra amar é preciso ter aprendido ou ter sido minimamente exposto ao amor para tirar dele uma conclusão e fazer a sua escolha de amar também.
Praticamente tudo o que está escrito nesse livro me chamou atenção e me fez refletir muito. Como sou uma pessoa que gosta de estudar e grifo tudo que acho importante, já podem imaginar que grifei quase o livro todo [rs].
Contudo, selecionei alguns trechos que refletem bem a visão torpe e preconceituosa da nossa sociedade, e olha que ela estava se referindo ao Estados Unidos.
"A generosidade e a caridade militam contra a proliferação da avareza, seja na forma de gentileza para um vizinho, criando-se um sistema progressivo de distribuição de trabalho, seja apoiando programas de bem-estar social financiados pelo Estado." Agora vem o bummm.... Quando a política da ganância se torna uma norma cultural, todos os atos de caridade são vistos equivocadamente como suspeitos e são representados como demonstrações de fraqueza. Como consequência, os cidadãos de nosso país se tornam menos caridosos a cada dia, defendendo com arrogância políticas que os beneficiam individualmente, que protegem os interesses dos ricos, alegando que os pobres e necessitados não trabalham o suficiente."
E tem mais, segue o fio....
"Uma das ironias da cultura da ganância é que as pessoas que mais lucram com ganhos que lhes pertencem sem terem trabalhado para obtê-los são as mais enfáticas na insistência de que os pobres e a classe trabalhadora só podem valorizar os recursos materiais obtidos por meio do trabalho árduo."
"A reação contra o bem-estar social nos Estados Unidos (e acrescento no Brasil também) hoje não é realmente uma reação contra o abuso de serviços sociais; é um ataque contra a compaixão na esfera pública."
bell hooks também cita que os Estados Unidos está entre um dos países mais ricos da Terra, no entanto, um quinto das crianças vive na pobreza e relembra que são a única nação ocidental que não possui um sistema público de saúde.
"Essas são verdades que ninguém quer encarar. Muitos cidadãos de nosso país temem adotar uma ética da compaixão porque isso ameaça a sua segurança. Sob o efeito de uma lavagem cerebral que os fez acreditar que só podem estar seguros se tiverem mais que o próximo, eles acumulam e continuam a se sentir inseguros, porque sempre existe alguém que acumulou mais."
E finalizo com mais um trecho reflexivo e potente...
"Nós não precisamos contemplar o sofrimento de tantos para que poucos possam viver num mundo de luxo excessivo."
Thays Sousa da Silva
Psicóloga/ Neuropsicóloga
CRP 06/136006
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