Luto Infantil

 

Que a morte é estranha e é um grande tabu todos concordamos. Falar sobre a morte é quase tão difícil quanto vivênciá-la de fato. Quando alguém fala sobre morrer um dia, as pessoas ao redor logo a repreendem dizendo: "não diga isso!" ou "não fale besteira!". Mas nos esquecemos que essa é na verdade a única certeza de que temos na vida: um dia todos vamos morrer! Só não sabemos quando, nem como. Mesmo nos cuidados paliativos de doenças terminais não se pode ter com exatidão o momento da morte. Ta aí a importância de se falar sobre ela, é necessário se preparar. Não nego que mesmo sendo psicóloga a morte também é uma questão muito delicada e difícil para mim. Mas hoje eu quero lhes falar um poquinho sobre o luto infantil.Muitas pessoas pensam que morte não é assunto para criança e na maioria das vezes escondem delas a verdade na tentativa de poupá-las do sofrimento. Porém o que muita gente se esquece e sei que não é por mal, é que as crianças também vão viver o luto, também vão sentir a falta e a ausência da pessoa querida ou até mesmo de um animalzinho de estimação.As crianças tendem a se sentirem confusas e perdidas em meio ao comportamento adulto de "fingir" que está tudo bem e que nada acontecendo, ou criando histórias para elas. Essas "histórias" não ajudam a diminuir a dor e não servem de consolo. Aumentam o sentimento de perda e a dúvida, pois a criança no fundo sabe que há algo de errado. Algumas podem até pensar que foram abandonadas e que a pessoa escolheu lhes deixar. Além disso tudo, ver os adultos "vivendo como se nada tivesse acontecido" causa nas crianças uma dor ainda maior: o embotamento de suas emoções. As crianças se sentem fracas e acham que há algo de errado apenas com elas, pois somente ela aparenta não estar conseguindo lidar com a dor e todos ao redor não estão se importando. A necessidade que a criança sente de ter que superar pois todos já superaram, evita que ela se abra e diga o que sente. É claro que os adultos também estão sofrendo, mas ao não demonstrar isso, a criança passa por essa confusão de sentimentos e emoções.A criança percebe tudo ao seu redor e eu costumo dizer, que crianças são os primeiros psicólogos que existem, pois fazem uma leitura do ambiente e da personalidade das pessoas com quem convivem como ninguém!Dizer que um ente que faleceu viajou, é subestimar a inteligência dos pequenos; pois logo perceberão que essa pessoa não volta; além de dificultar também a noção de tempo e espaço.Não é errado falar sobre a dor, demonstrar as crianças suas fraquezas e o que sente; muito pelo contrário. É assim que ensinamos as crianças sobre sentimentos e como respeitar a dor alheia. Elas precisam nos ver assim, entender que não somos super heróis e nem pessoas de ferro ou aço e sim reais, com dores reais, sentimentos reais e também estamos sofrendo pela perda assim como elas.É um momento difícil para toda a família, deixem que as crianças entendam isso e participem desse momento junto com vocês. Um dando força para o outro. As crianças podem ajudar e muito os adultos, muitas pessoas se surpreendem com a força e maturidade que as crianças demonstram quando se partilha com elas a verdade.O fenômeno vivenciado pela criança nesse momento se chama "quebra do vínculo". Perguntas como: "O que está acontecendo?", "Quando minha mãe volta?", "Vou viver sozinho?" "Pra onde meu pai foi?" podem surgir.Não precisa contar todos os detalhes, nem florear muito a história. Apenas use termos e conceitos que a criança compreenda e esteja pronto para responder as perguntas dela. As crianças só fazem perguntas sobre aquilo que estão prontas para aprender. A pergunta é o antecedente do entendimento dela. Pode dizer que uma pessoa querida morreu e que todos precisarão da união de todos, pois irão passar por momentos difíceis, mas juntos irão superar e a dor um dia se transformará em uma saudade bonita.Quando a criança é muito pequena, ainda não irá compreender exatamente o que está acontecendo. Elas irão sentir saudade, mas ainda pensarão que a pessoa pode voltar a qualquer momento. A partir dos 3 anos, a criança começa a compreender um pouquinho mais sobre a morte e pensarão que tudo pode ser resolvido com facilidade. Tendem a ter soluções mágicas como: "Vamos visitar o vovô lá no céu." Apenas por volta dos cinco anos é que as crianças começam a entender a questão da irreversibilidade da morte. Nesse momento começam a compreender que quem morreu não volta mais. No começo acreditam que somente pessoas mais velhas como idosos morrem, o que causa muita confusão quando um coleguinha ou a mãe/ pai morrem devido uma doença ou acidente, por exemplo.O importante é ter paciência com a criança e não afastá-la de você e da sua dor. Crie momentos para que todos possam expressar o que sentem. Quando a criança não tem espaço para dizer ou expressar o que sente, pode manifestar inquietação, ansiedade, agressividade, ou ficar apática e quieta demais. Essa situação pode mexer com o sono da criança também, dormindo muito ou pouco. Podem sentir muitos medos a maioria irracional. Tudo pode assustá-los. É uma mistura de emoções e sentimentos não é mesmo? É pior quando elas não tem algo concreto para elaborar esse luto, apenas mentiras e fantasias criadas com o intuito de protegê-las. Sei que é dificil, mas não as afaste de você. Não deixe a criança sozinha, ofereça sempre companhia e esteja disposto (a) a conversar e ouvir. Fale para a criança como você se sente, isso ajuda a criança a expressar melhor o que ela sente também e elaborar essas emoções com naturalidade. fazer desenhos, pinturas e escrever ajuda muito. Ensine a criança a falar com a pessoa que morreu pelo pensamento, isso ajuda a suportar a saudade. Pergunte se a criança gostaria de participar dos rituais de despedida (velório, sepultamento, homenagens especiais); se elas quiserem ir, explique antes o que ela irá encontrar por lá. Prepare o ambiente mentalmente para ela. Avise a escola e os cursos que a criança frequenta sobre o momento delicado que estão passando, eles também precisam estar prontos para ajudar.  
Nesse momento tudo o que as crianças precisam é de amor, carinho, compreensão e cuidado. E caso percebam algum comportamento que esteja fugindo do controle ou sentem que não conseguem passar por isso sozinhos, busquem por ajuda profissional, tanto para vocês quanto para as crianças. Lembrem-se: quem cuida de uma criança, também precisa se cuidar e estar bem para desempenhar esse papel.


Thays Sousa da Silva, 
Psicóloga Clínica
CRP 06/136006

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